domingo, 4 de maio de 2014

Entrevista com a Pedagoga Especial



 Nossa entrevistada é a professora Marineide Caiana, coordenadora de Educação Inclusiva Possui graduação em Pedagogia pela Universidade de Pernambuco, graduação em Letras - Inglês pela Universidade de Pernambuco, especialização em leitura e produção de texto pela Universidade de Pernambuco, especialização em Educação Especial Inclusiva pela Universidade Norte do Paraná e especialização em Atendimento Educacional Especial pela Universidade Federal do Ceará.


- Como se deu o seu início como professora de alunos com deficiência? 
O primeiro contato com estudante com deficiência foi com um aluno surdo. Ele ia para a minha sala antes ou depois do atendimento educacional especializado, ele tinha um primo que estudava comigo. Quando eu o via fazia quase um teatro pra estabelecer a comunicação, ele ria muito de mim, mas a lembrança mais forte, foi a de que eu queria falar com aquele aluno, queria entendê-lo, queria saber o que ele achava da minha aula nos poucos minutos que estava comigo. Depois desse contato, eu estava recém concursada no município de Petrolina e houve uma grande mudança reposicionando, os concursados novos. Eu estava na Escola Luiz de Souza (Serrote do Urubu) e teria que me localizar na escola NM12 (Vila Aparecida). Nessa escola tinha uma turma com alunos com deficiência, uma turma Especial e mais três outras turmas, não lembro quais as séries. E eu disse "quero a turma de educação especial", e as pessoas me perguntavam "você tem experiência?", você já trabalhou com  esse tipo de aluno? Eu disse para coordenadora na época, muito rigorosa na seleção daqueles que iriam trabalhar com os alunos com deficiência, "eu tenho a experiência de um estágio na APAE-Juazeiro", ela me perguntou o período e naquele momento, eu senti que ela ia dizer que eu não podia, então já respondi o período que foi de apenas um mês, com um "eu quero muito ficar com essa turma". Iniciei com 5 alunos com deficiência Intelectual e duas alunas com baixa-visão, uma delas com diagnóstico de perda progressiva da visão, com indicativo para o uso do Sistema de Escrita Braille). Eu estava alí pronta para aprender. Não pedi uma chance para ensinar, pedi uma oportunidade para aprender e sou muito grata por isso.


- Cite um momento de grande dificuldade e ou outro bem marcante, na sua trajetória como professora.

O momento de maior dificuldade foi quando precisei ensinar Braille e não sabia nada desse sistema de leitura. As meninas estavam ali comigo e precisavam participar da aula. Texturizar a atividade, explicar muito bem e fazer as atividades oralmente já não satisfazia a minha aluna de maior perda visual, pois ela queria produzir sua escrita, e como todo escritor, queria analisar o que ela mesma tinha posto no papel. Na mesma época eu estava  cursando a minha segunda graduação e por providência divina, foi oferecido educação especial, disciplina que eu cursei em Pedagogia, mas quis cursar outra vez para ajudar as meninas e a mim mesma. Para minha sorte, a professora que iria ministrar a disciplina era especialista em deficiência visual. Então, eu estudava e aplicava o que aprendia simultaneamente nas meninas. Uma situação engraçada que eu não posso deixar de citar é que eu tinha uma estratégia de ensinar o Braille às alunas fazendo ditados, corrigindo a escrita delas sem nenhuma guia, para poder forçar a minha memorização dos pontos, mesmo estando aprendendo também. Entretanto, certo dia, já cansada no final da aula, eu não conseguia identificar uma palavra que a aluna tinha escrito e trapaceei (segredo que estou contando só a vocês), eu disse a minha aluna: "quero saber se você realmente aprendeu, quais são os pontos da letra F?". Ela respondeu, eu senti segurança na resposta dela, era muito aplicada, e eu completei a atividade, com o sentimento de que muito ainda precisava buscar . Na época eram poucas as ajudas que encontrávamos. No cyber- espaço, hoje, se você digitar qualquer palavra referente a pessoa com deficiência, vai chover de informação. Não posso deixar de citar a contribuição de Creuzenilda Silva e Sirlene Caxias. A primeira porque me ensinou tudo sobre o agir pedagógico com o aluno com deficiência visual e a segunda porque me ensinou o Sistema Braille  


- Houve alguma mudança importante na sua vida pessoal ou profissional, a partir dessa experiência com alunos com deficiência? 
Todas as mudanças possíveis e imagináveis. Eu era professora de sala especial em Petrolina-PE e professora de um quarto ano em Juazeiro-BA, imagine o que estas duas realidades me proporcionavam de trocas. Foi um divisor de águas, antes eu tinha o desejo de ser professora e após a minha sala especial, eu sabia que era professora.  Eles me ensinaram ver, enxergar o aluno por completo, me ensinaram a identificar potenciais, a trabalhar de várias maneiras, a enfrentar dificuldades. A verdade é que eles me fizeram professora.


- Desde 2009 você coordena a área de Educação Inclusiva. Fale sobre a atribuição desse órgão e de alguns avanços nos últimos anos.
Quando aceitei o convite, um pouco relutante, feito pelos secretários Marcos Conceição e Fernando Shuller, eu, como toda e qualquer pessoa que assume algo novo, ansiava por transformações, acreditava e acredito nas parcerias intersetoriais, e com o apoio das secretarias de Educação e de Acessibilidade, pensava que tudo ia ser mais fácil. Avalio que foram grandes as conquistas, mas a maior conquista foi ter trazido para compor a equipe, pessoas das quais eu conhecia o trabalho, admirava, e sabia que iam me ajudar muito nessa estruturação. A maior contribuição que elas me deram, dentre tantas, foi a de me lembrar sempre que antes de mim, muito já tinha sido feito, e que respeitar as conquistas anteriores era a melhor forma para outras conquistas, sendo importante para a minha maturidade. Quero salientar que ainda estou maturando essa maturidade (risos). A educação Inclusiva deste município  é uma construção coletiva, ela procura responder às necessidades dos educandos com deficiência, apoiando-se na escola, com a participação de toda comunidade escolar, com os profissionais do Atendimento Educacional Especializado (AAE), os supervisores de AEE, a coordenação de projetos, os núcleos NAPPNE (Avaliação Psicopedagógica), Centro Auditivo, Centro do Livro Acessível (sendo estruturado), Núcleo de Educação Física, e todos os setores da Secretaria de Educação. É importante sublinhar que o aluno com deficiência, como todo e qualquer outro aluno. é da responsabilidade de todos. A sua efetiva participação escolar não é o mero cumprimento da lei, mas a ação atitudinal de todos. Incluir não é apenas respeitar uma lei, é mudar sua atitude frente ao outro. E nesse aprendizado, algumas pessoas ainda não perceberam que já estão interiorizando e outras ainda precisam perceber a essência do Direito. Então, falar de avanços é precoce porque eu e minha equipe queremos sempre mais muito mais. E se avaliarmos o que já conseguimos, eu diria, muito! Mas falta mais! Só poderei falar de avanços quando todos neste município não precisarem ser lembrados da lei e respeitarem o aluno com deficiência como aluno, e não como  algo que lhes foi imposto. Quando as atitudes iguais a de um gestor da área irrigada que foi a casa de certo aluno e exigiu que frequentasse a escola não por ter deficiência, mas por ser um escolar, e quando a mãe colocou as dificuldades de seu filho ser cadeirante, a escola se prontificou em fazer as adequações necessárias. Essa é uma ação de atitude!


- Qual é a participação dos pais dos alunos com deficiência, no atendimento, no acompanhamento?
Divergências extremas. Existe a família que coopera, orienta sobre seu filho, e existe a família de luto que não aceita e que se sente agredida quando a escola exige a participação. Precisamos ter bom senso para ajudá-las a nos ajudar.

- Existe um trabalho em rede ou em cooperação com outros órgãos?

Sim. Precisamos fortalecer acordos dos últimos quatro anos, trabalhamos em parceria com IMIP, com a secretária de Saúde e a secretaria de Acessibilidade.


- Qual a sua mensagem para nossos leitores, sobre a inclusão social e educacional?
Inclusão social ou educacional é uma atitude frente ao outro. Se você respeita o outro, você inclui. Se você enxerga no outro você, sabe incluir. E incluir é o Princípio cristão de amar o próximo como a te mesmo.



2 comentários:

  1. Existem iniciativas de inclusão social e educacional em nossa escola? Em nosso Município?

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Em nossa escola, temos uma classe que tem dois alunos cadeirantes e acreditamos que eles são bem tratados e tem bastante acesso, com rampas e banheiros, além de ter uma professora auxiliar para ajudar no desenvolvimento desses alunos.
      Em nosso município há o atendimento para crianças de inclusão de escolas municipais no CEMAEE, mas não há nenhum centro que atenda os alunos de escola estadual e não há nenhum auxilio para quem não frequenta a escola.

      Excluir