Nossa entrevistada é a professora Marineide Caiana,
coordenadora de Educação Inclusiva Possui graduação em Pedagogia pela
Universidade de Pernambuco, graduação em Letras - Inglês pela Universidade de
Pernambuco, especialização em leitura e produção de texto pela Universidade de
Pernambuco, especialização em Educação Especial Inclusiva pela Universidade
Norte do Paraná e especialização em Atendimento Educacional Especial pela
Universidade Federal do Ceará.
- Como se deu o seu início como
professora de alunos com deficiência?
O primeiro contato com estudante com deficiência
foi com um aluno surdo. Ele ia para a minha sala antes ou depois do atendimento
educacional especializado, ele tinha um primo que estudava comigo. Quando eu o
via fazia quase um teatro pra estabelecer a comunicação, ele ria muito de mim,
mas a lembrança mais forte, foi a de que eu queria falar com aquele aluno,
queria entendê-lo, queria saber o que ele achava da minha aula nos poucos
minutos que estava comigo. Depois desse contato, eu estava recém concursada no
município de Petrolina e houve uma grande mudança reposicionando, os
concursados novos. Eu estava na Escola Luiz de Souza (Serrote do Urubu) e teria
que me localizar na escola NM12 (Vila Aparecida). Nessa escola tinha uma turma
com alunos com deficiência, uma turma Especial e mais três outras turmas, não
lembro quais as séries. E eu disse "quero a turma de educação
especial", e as pessoas me perguntavam "você tem experiência?",
você já trabalhou com esse tipo de aluno? Eu disse para coordenadora
na época, muito rigorosa na seleção daqueles que iriam trabalhar com os alunos
com deficiência, "eu tenho a experiência de um estágio na
APAE-Juazeiro", ela me perguntou o período e naquele momento, eu senti que
ela ia dizer que eu não podia, então já respondi o período que foi de apenas um
mês, com um "eu quero muito ficar com essa turma". Iniciei com 5
alunos com deficiência Intelectual e duas alunas com baixa-visão, uma delas com
diagnóstico de perda progressiva da visão, com indicativo para o uso do Sistema
de Escrita Braille). Eu estava alí pronta para aprender. Não pedi uma chance
para ensinar, pedi uma oportunidade para aprender e sou muito grata por isso.
- Cite um momento de grande dificuldade e ou outro bem marcante, na sua trajetória como professora.
O momento de maior dificuldade foi quando precisei
ensinar Braille e não sabia nada desse sistema de leitura. As meninas estavam
ali comigo e precisavam participar da aula. Texturizar a atividade, explicar
muito bem e fazer as atividades oralmente já não satisfazia a minha aluna de
maior perda visual, pois ela queria produzir sua escrita, e como todo escritor,
queria analisar o que ela mesma tinha posto no papel. Na mesma época eu
estava cursando a minha segunda graduação e por providência divina,
foi oferecido educação especial, disciplina que eu cursei em Pedagogia, mas
quis cursar outra vez para ajudar as meninas e a mim mesma. Para minha sorte, a
professora que iria ministrar a disciplina era especialista em deficiência
visual. Então, eu estudava e aplicava o que aprendia simultaneamente nas
meninas. Uma situação engraçada que eu não posso deixar de citar é que eu tinha
uma estratégia de ensinar o Braille às alunas fazendo ditados, corrigindo a
escrita delas sem nenhuma guia, para poder forçar a minha memorização dos
pontos, mesmo estando aprendendo também. Entretanto, certo dia, já cansada no
final da aula, eu não conseguia identificar uma palavra que a aluna tinha
escrito e trapaceei (segredo que estou contando só a vocês), eu disse a minha
aluna: "quero saber se você realmente aprendeu, quais são os pontos da
letra F?". Ela respondeu, eu senti segurança na resposta dela, era muito
aplicada, e eu completei a atividade, com o sentimento de que muito ainda
precisava buscar . Na época eram poucas as ajudas que encontrávamos. No cyber-
espaço, hoje, se você digitar qualquer palavra referente a pessoa com
deficiência, vai chover de informação. Não posso deixar de citar a contribuição
de Creuzenilda Silva e Sirlene Caxias. A primeira porque me ensinou tudo sobre
o agir pedagógico com o aluno com deficiência visual e a segunda porque me
ensinou o Sistema Braille
- Houve alguma mudança importante
na sua vida pessoal ou profissional, a partir dessa experiência com alunos com
deficiência?
Todas as mudanças possíveis e imagináveis. Eu era
professora de sala especial em Petrolina-PE e professora de um quarto ano em
Juazeiro-BA, imagine o que estas duas realidades me proporcionavam de trocas.
Foi um divisor de águas, antes eu tinha o desejo de ser professora e após a
minha sala especial, eu sabia que era professora. Eles me ensinaram
ver, enxergar o aluno por completo, me ensinaram a identificar potenciais, a
trabalhar de várias maneiras, a enfrentar dificuldades. A verdade é que eles me
fizeram professora.
- Desde 2009 você coordena a área
de Educação Inclusiva. Fale sobre a atribuição desse órgão e de alguns avanços
nos últimos anos.
Quando aceitei o convite, um pouco relutante, feito
pelos secretários Marcos Conceição e Fernando Shuller, eu, como toda e qualquer
pessoa que assume algo novo, ansiava por transformações, acreditava e acredito
nas parcerias intersetoriais, e com o apoio das secretarias de Educação e de
Acessibilidade, pensava que tudo ia ser mais fácil. Avalio que foram grandes as
conquistas, mas a maior conquista foi ter trazido para compor a equipe, pessoas
das quais eu conhecia o trabalho, admirava, e sabia que iam me ajudar muito
nessa estruturação. A maior contribuição que elas me deram, dentre tantas, foi
a de me lembrar sempre que antes de mim, muito já tinha sido feito, e que
respeitar as conquistas anteriores era a melhor forma para outras conquistas,
sendo importante para a minha maturidade. Quero salientar que ainda estou
maturando essa maturidade (risos). A educação Inclusiva deste
município é uma construção coletiva, ela procura responder às
necessidades dos educandos com deficiência, apoiando-se na escola, com a
participação de toda comunidade escolar, com os profissionais do Atendimento
Educacional Especializado (AAE), os supervisores de AEE, a coordenação de projetos,
os núcleos NAPPNE (Avaliação Psicopedagógica), Centro Auditivo, Centro do Livro
Acessível (sendo estruturado), Núcleo de Educação Física, e todos os setores da
Secretaria de Educação. É importante sublinhar que o aluno com deficiência,
como todo e qualquer outro aluno. é da responsabilidade de todos. A sua efetiva
participação escolar não é o mero cumprimento da lei, mas a ação atitudinal de
todos. Incluir não é apenas respeitar uma lei, é mudar sua atitude frente ao
outro. E nesse aprendizado, algumas pessoas ainda não perceberam que já estão
interiorizando e outras ainda precisam perceber a essência do Direito. Então,
falar de avanços é precoce porque eu e minha equipe queremos sempre mais muito
mais. E se avaliarmos o que já conseguimos, eu diria, muito! Mas falta mais! Só
poderei falar de avanços quando todos neste município não precisarem ser
lembrados da lei e respeitarem o aluno com deficiência como aluno, e não
como algo que lhes foi imposto. Quando as atitudes iguais a de um
gestor da área irrigada que foi a casa de certo aluno e exigiu que frequentasse
a escola não por ter deficiência, mas por ser um escolar, e quando a mãe
colocou as dificuldades de seu filho ser cadeirante, a escola se prontificou em
fazer as adequações necessárias. Essa é uma ação de atitude!
- Qual é a participação dos pais
dos alunos com deficiência, no atendimento, no acompanhamento?
Divergências extremas. Existe a família que
coopera, orienta sobre seu filho, e existe a família de luto que não aceita e
que se sente agredida quando a escola exige a participação. Precisamos ter bom
senso para ajudá-las a nos ajudar.
- Existe um trabalho em rede ou em cooperação com
outros órgãos?
Sim. Precisamos fortalecer acordos dos últimos
quatro anos, trabalhamos em parceria com IMIP, com a secretária de Saúde e a
secretaria de Acessibilidade.
- Qual a sua mensagem para nossos
leitores, sobre a inclusão social e educacional?
Inclusão social ou educacional é uma atitude frente
ao outro. Se você respeita o outro, você inclui. Se você enxerga no outro você,
sabe incluir. E incluir é o Princípio cristão de amar o próximo como a te
mesmo.
Existem iniciativas de inclusão social e educacional em nossa escola? Em nosso Município?
ResponderExcluirEm nossa escola, temos uma classe que tem dois alunos cadeirantes e acreditamos que eles são bem tratados e tem bastante acesso, com rampas e banheiros, além de ter uma professora auxiliar para ajudar no desenvolvimento desses alunos.
ExcluirEm nosso município há o atendimento para crianças de inclusão de escolas municipais no CEMAEE, mas não há nenhum centro que atenda os alunos de escola estadual e não há nenhum auxilio para quem não frequenta a escola.